segunda-feira, outubro 08, 2007

Diz-me em que faculdade estudas, dir-te-ei quem és!

"O bulício, alarido, do início das aulas já começou. A actividade praxística que recebe com o intuito de educar e integrar os novos caloiros já mexe. As famílias estão felizes porque vão ter mais um descendente doutor, as crianças que agora chegam à faculdade felizes estão, porque vão beber até cair e se calhar também estudar qualquer coisa…Eu tenho de confessar que fervilho de saudades da Academia - foram os melhores tempos que já passei e certamente serão dos melhores, senão os melhores, que terei na vida.
Porém toda esta felicidade é algo perniciosa diga-se, ou a média de licenciados desempregados não aumentasse todos os anos. Porquê? Deve perguntar-se muita gente. As famílias, agora cegas pela enganadora vaidade que um canudo pode vir a trazer, em breve começarão a preocupar-se. Os alunos, agora caloiros, quando recuperarem da ressaca dos primeiros anos de ilusão académica e crescerem, também começarão a perguntar-se sobre qual será o seu futuro…
Uma das respostas para este problema é claramente o ensino superior privado, ou melhor a falta de qualidade desse ensino, que na sua maioria, não é mais do que uma (excelente) máquina para fazer dinheiro, que burla os pais embrutecidos pela visão de um onírico canudo, qual bibelot, exposto na sala de suas casas.
Há uns tempos ouvi um dos Júdices dizer que se há 50 anos existiam em Portugal 90% de analfabetos, hoje são cerca de 99%. À primeira leitura tal afirmação pode parecer imbecil, mas a verdade é que a grande maioria de quem se licencia hoje, não lê mais do que aquilo que lhe é imposto, contra vontade e mal, e mais uns periódicos desportivos, daí o jocoso comentário deste tipo. Tenho de concordar em parte, basta pensar na maior parte dos meus colegas que pensavam que o Boris Vian era uma tosta mista francesa…
Mas qual a qualidade do ensino privado em geral? Infelizmente é mau. Obviamente que existem algumas universidades privadas boas como a Católica, ou por exemplo a Lusófona e a Lusíada (em alguns cursos)…Mas e as outras? Na sua grande maioria são más, e refiro-me ao corpo docente, às instalações, aos planos de curso, etc. Atenção que não estou a afirmar que as pessoas que lá andam são burras, acredito que até existem algumas pessoas que aterram nesses estabelecimentos por algum azar da vida, e até têm capacidades, e depois de pagarem bem, muito bem, pelo curso, vão ficar colados ao estigma do mau nome da faculdade, onde entretanto estoirou um escândalo qualquer, como tem acontecido nos últimos tempos…
Os mais astutos perguntam agora, então mas se essas universidades são assim tão más porque é que conseguem abrir? Interesses económicos. Parece-me óbvio. Infelizmente não existe outra explicação…Os requisitos para abrir uma universidade privada são de carácter duvidoso, e eu duvido que sejam escrupulosamente respeitados. Depois tenta-se fazer o que está actualmente a acontecer por exemplo na área do Direito, onde se tenta separar o trigo do joio à entrada da profissão, neste caso das ordens, quando esta selecção devia ter sido logo feita antes da entrada nas universidades, até porque um curso é um investimento enorme, investimento esse que vai custar muitas dificuldades a imensas famílias.
Então mas qual a solução para o que tenho vindo a falar? Primeiro é importante apostar em bons cursos profissionais e tentar afastar o estigma da necessidade do canudo. Depois é importante afastar as pressões económicas e clarificar e reforçar os requisitos necessários para se abrir uma faculdade. O Professor Jorge Miranda defende que para se poder abrir uma universidade é necessário que se apresente um projecto educativo próprio, que se garanta a qualidade do corpo docente e por fim, que o projecto seja apresentado por um grupo de professores. Os dois primeiros critérios são indiscutíveis, ao contrário do terceiro, embora se perceba facilmente qual a sua ratio, que é a de afastar os interesses económicos do ensino, no fundo estão em causa questões de transparência e imparcialidade. Seja como for os dois primeiros são imprescindíveis e enquanto não se tomar a sério o problema que o ensino universitário privado actual está a colocar cada vez mais, cada vez maior e pior será a oferta de trabalho, saturando-se ainda mais o já saturado mercado de trabalho."
Jorge
in o "Jornal da Terriola"

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