quinta-feira, fevereiro 15, 2007

A espuma dos dias (Boris Vian)


É lindo, arrancou-me o coração de imediato...

(Tinha escrito...)

"Oiço Radiohead e Jeff Buckley e extasio-me até me perder em espasmos…Penso em ti e só consigo pensar em “sentir os teus seios no meu peito, as minhas mãos cruzadas sobre o teu corpo, os teus braços à volta do meu pescoço, a tua cabeça perfumada na curva do meu ombro, a tua pele palpitante, o cheiro que vem de ti…”, leio Pessoa e o meu cérebro enche-se de sensações, disperso-me…sorrio…a espuma dos dias toca-me…
Vian foi escritor, compositor, músico, cronista de jazz, actor…Contudo, foi provavelmente na literatura que deixou o maior e melhor legado. Escreveu livros lindos e estranhos – cativou-me automaticamente. “A espuma dos dias” é um tratado de humor negro, eivado de metáforas inteligentes e carregadas de uma deliciosa ironia crítica, até cáustica…O ambiente surreal e ilógico que cria demonstra a vontade do autor em inovar, o que todavia não lhe trouxe o reconhecimento da Crítica na altura, que lhe Apelidou as suas histórias de estranhas, caóticas, disparatadas, absurdas. Foi incompreendido pelas mentes curtas da altura.
A história gira essencialmente à volta de quatro amigos, Colin, Chick, Alise e Chloé, e da sua amizade, amor, vícios…As constantes referências àquelas coisas que no geral todos nós consideramos como a espuma da vida são deliciosas – o estar apaixonado, a boa culinária, o venerar um escritor (por exemplo, “Jean Sol Partre” – Vian recorre muitas vezes a deformações satíricas de nomes). Mas tudo isto sempre construído em cenários surreais e metafóricos. O enredo avança passando de uma (quase) história de amor para uma tragédia, dando a sensação de que o escritor melífluamente vai criticando os excessos típicos da natureza humana, deixando transparecer uma certa reprovação e ridicularização sarcástica pela adoração excessiva – e imbecil!? – por aquelas coisas individuais que movem a vida de cada um…a ironia é de tal forma marcada que o livro acaba com “Aproximavam-se, a cantar, onze rapariguinhas cegas do Orfanato Júlio o Apostólico.” O livro, e a sua obra em geral, está fortemente marcada por um estilo sarcástico, crítico, daí as recorrentes alusões críticas à Igreja, Estado, guerra, excessos idiotas…Não vou adiantar muito mais sobre a história em si – leiam. O livro é brilhante, faz parte da espuma dos dias, é um verdadeiro “arranca-corações”.

1 comentário:

Lara Croft disse...

Bem, eu li Espuma dos dias, As formigas, Outono em Pequim...mas sem dúvida Espuma dos dias...é algo que nps leva para um mundo...é viciante. Adorei