maniqueísmos morais - o amor

corre-me o desespero nas veias. a introversão encapotada, uma dor insinuante e claustrofóbica. obrigado pai pela herança. os russos que leio, que falam de morte e de amor, elevam-se das páginas pesadas e empilhadas dos livros prisão que colecciono e que guardo cuidadosamente colados à minha cabeça, e perguntam-me e pergunto-me o que é o amor.

a tinta que me percorre a cara é amor, mas também tristeza. o álcool que me expõe é também amor e dor. o vício é também amor e dor. a destruição é também dor. e amor.

os movimentos frágeis e desajeitados daqueles que idolatro possuem-me. continuo de copo na mão, mão que não pára de subir e descer sincronizadamente e bêbeda de intenção. o que é o amor se não fantasmas?

o que é o correcto e o incorrecto? já não sei. os meus dedos trilhados de pretensiosismo pedem-me permissão para qualquer coisa.

não há qualquer resposta correcta para pergunta alguma. a morte já não é certeza, o sofrimento sim. sim, também oiço vozes. e confundo-me. estas esparsas palavras são também amor. a desordem de quem perde o controlo é também amor e palavras.

as palavras não são mais do que amor. sinto as olheiras pesadas, imagem de quem se perde. o escuro que me turva o olhar é não mais do que amor.

obrigado pai pelo sangue. o sangue não é mais do que amor.

somos tomados por maniqueísmos morais impostos por ideias obsoletamente incorrectas vendidas pela sociedade negra, que enverga a fútil toga da moral. a sociedade não é mais do que a descrença no amor.

perdi o controlo. outra vez. são décadas e desassossego. é amor.