terça-feira, março 13, 2007

Lenz, Georg Buchner

"Por vezes apenas, quando a tempestade lançava nos vales as nuvens e elas se dissipavam pela floresta acima, e as vozes despertavam nos penhascos, primeiro como um trovão longínquo que se extingue, depois mais perto, rugindo com violência, por sons, como se no júbilo feroz quisessem celebrar a terra, e quando as nuvens explodiam como cavalos selvagens a relinchar, e quando aluz do sol as atravessava, e chegava, e desembainhava a sua espada resplandecente sobre as superfícies cobertas de neve, para que por cima dos cumes uma luz brilhante e ofuscante viesse cortar os vales; ou quando a tempestade puxava as nuvens para baixo e fendia um lago azul luminoso, e quando em seguida o vento se extinguia, e das profundezas dos desfiladeiros, dos cumes dos abetos, sussurrava para o alto, como uma canção de embalar e um repique de sinos, e quando subia pelo profundo azul um suave vermelho, e quando pequenas nuvens passavam sobre asas de prata, e todos os cumes das montanhas, cortantes e firmes , irradiavam e brilhavam muito para além da região, o seu peito dilacerou-se, deteve-se, ofegante, com o corpo curvado, os olhos e a boca escancarados, pensava ter de chamar a si a tempestade, conter em si o universo, estirou-se e ficou deitado sobre a terra, enfiava-se pelo universo adentro, era um prazer que lhe fazia mal; ou então mantinha-se imóvel, e deitava a cabeçano musgo e semicerrava os olhos, e então tudo era puxado para longe dele, a terra cedia debaixo dele, tornava-se pequena como uma estrela errante, e submergia num curso de água tumultuoso,que fazia correr debaixo dele a sua torrente translúcida. Mas eram apenas instantes, e então levantava-se, taciturno, determinado, sereno, como se diante dele tivesse passado um teatro de sombras, e esquecia-se de tudo."

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