"Já lá vão mais de trinta anos desde que rebentou, nos Estados Unidos, um dos escândalos políticos mais mediáticos de sempre, que ficou conhecido como o “caso Watergate” e que acabou por fazer cair Richard Nixon, o presidente norte-americano da altura. Se é verdade que os moldes de tal escândalo foram completamente diferentes daqueles com que temos sido presenciados nos últimos dias em todos os meios de comunicação, o alarido criado em Portugal com o caso Freeport e a sua alegada ligação com o nosso Primeiro-Ministro, José Sócrates, relembra as possíveis consequências que a existência de escândalos políticos, como o caso Watergate, podem acarretar para um Governo. No nosso caso, resta saber se existe verdadeiramente um escândalo ou, pelo menos, se esse escândalo atinge José Sócrates. Na verdade, pouco mais existe que meras suposições, que nem chegam a ser indícios. Suposições que têm vindo a ser muito bem trabalhadas pelos media, assentadas na boca de uma instituição qualquer britânica, que, pelos vistos, e ironicamente, ao bom estilo lusitano, não tem qualquer credibilidade. Por sua vez, a oposição, à falta de capacidade para conseguir fazer verdadeira oposição, arregala os olhos e mostra as suas insípidas e sujas garras arremessando as supostas suposições de corrupção contra o actual Primeiro-Ministro, na tentativa abutre de conseguir retirar daí dividendos políticos. Actualmente, na política não existindo o valor intelectual necessário para boas coisas se fazer, joga-se com o que se tem – baixo. Com isto não estou a ilibar o Primeiro-Ministro ou a afirmar que não houve corrupção neste caso. Estou apenas a afirmar que, neste caso, contra o Chefe de Governo não existem mais do que suposições, o que, num Estado de Direito Democrático, não vale, pelo menos não deveria valer, nada. Desta forma, estando perante meras suposições, ainda por cima durante uma das maiores, senão a maior, crise dos últimos cem anos, obviamente que, por este simples facto, não haverá razão suficiente para o Governo cair. É triste ver a caduca oposição ao Governo, que se arrasta baboseiramente por entre considerações absurdas e até ofensivas. Ainda assim, este caso Freeport ainda fará correr muita tinta, até porque, conhecendo os meandros da (maioria da) actual classe política, não será admiração alguma o facto de ter existido algum tipo de corrupção no licenciamento do centro comercial Freeport. Infelizmente este é o raciocínio que todos os portugueses farão, e, neste caso, apoiados na diária realidade de escândalos atrás de escândalos que consomem a tinta dos media. Ainda assim, de forma naïf ou não, e para o bem da já decrépita democracia portuguesa, quero acreditar na inexistência de corrupção neste caso.
Na altura, o presidente Nixon, apesar de o Congresso lhe ter caçado o mandato, negou sempre as acusações feitas, até que, tempos depois, nas afamadas entrevistas televisivas com o jornalista britânico David Frost (que se pensou facilmente manuseável, óptima oportunidade para o político caído em desgraça recuperar a sua reputação), o mesmo ex-presidente praticamente confessou em directo o seu envolvimento no escândalo Watergate. Aliás, um dos grandes nomeados para os Óscares do presente ano é exactamente o filme Frost/Nixon de Ron Howard.
Tal as parecenças que é possível encontrar entre o nosso suposto escândalo e o bulício mediático jornalístico que aí se tem alimentado, que ponho-me já a pensar na possibilidade de, daqui a uns anos, termos na televisão portuguesa um Mário Crespo/Sócrates (ou um Gabriel Alves/Cavaco). Esperemos que não ou a nossa democracia e sistema político, se ainda existir, estará, certamente, em maus lençóis."
publicado in jornal da terriola
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Há 12 anos
1 comentário:
Excelente post, mas só uma aparte: "In Jornal de Monchique".
É bom que os leitores do blog, especialmente os que não são monchiquenses, saibam que nas "terriolas" também se produz gente civilizada, culta e inteligente.
Um abraço.
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