quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Terceiro direito (Manuel de Freitas)

Terceiro direito

"O inferno, aqui. Deve ser normal.
Um choro de criança, no andar
de cima, sobrepõe-se à música
que não ouço e que é talvez de Brel
(nenhum quarteto de Mozart serviria agora

Há dias assim. Os guindastes
da insónia não seguram a voz, desastre
anunciado pela teimosia de pássaros
suburbanos. Coisas de muito esquecer,
se eu pudesse. Mas o corpo hesita,

volta a ser o envelope vazio
de um destino por assinar - e que
nada tem, neste momento, de «literário»,
Sinto a luz na garganta, sufoco
discretamente, alheio ao excesso .
de imagens que me traz o dia. ,
A alegria, se quiserem, fica para mais
tarde. Aqui, de novo, morre-se muito mal"

vivo no terceiro E, mas aqui também não se morre melhor.

este manuel de freitas mostra que a literatura portuguesa só pode provir de uma fonte inesgotável.

1 comentário:

M. disse...

nunca gostei do terceiro andar.
sempre tive vizinhos parvos.